Aradia – A Bruxaria e Industrialização Italiana

Aradia - o Evangelho das Bruxas

Em 1899 fora publicado pela primeira vez o livro Aradia – o Evangelho das Bruxas, escrito por Charles Godfrey Leland, um folclorista e jornalista que estudou um culto particular de bruxaria na Itália durante o século XIX, esse culto, envolto nas brumas da dúvida, deu origem ao livro Aradia – o Evangelho das Bruxas em 1899. Não espere encontrar uma crença Wiccan, mesmo que Gardner, o pai da Wicca, tenha se apoiado neste livro para criar a Wicca, a mesma surgiu somente décadas depois na Inglaterra, influenciada por diversas culturas (há elementos budistas, indianos, pagãos, maçônicos, etc.). Aqui você irá conhecer uma tradição italiana controversa e quase desconhecida pelos próprios italianos. Há quem diga que este livro não é real, já que Leland foi acusado de criar todo o texto, ou o texto foi criado pela informante dele, Maddalena Taluti, uma suposta bruxa de família hereditária que o ajudou a coletar os contos que compõem o evangelho, mas outros comprovam que estes eram somente em parte reais, já que a tradição que se fala é quase desconhecida e praticamente uma forma de reconstrucionismo pagão. Para compreender de fato este livro precisamos estar a par do contexto histórico de Leland e sua informante, a bruxa Maddalena, cujo nome real era Margherita Taluti, e que foi uma bruxa de Florença que dizia descender de uma família de linhagem etrusca e conhecer ritos e encantamentos proibidos ou secretos. 

A Itália do Século XIX

Aradia - o Evangelho das Bruxas
Aradia e o Evangelho das Bruxas

O século em que viveu Maddalena e Leland foi marcado por uma intensa expulsão demográfica na Europa devido a Revolução Industrial. O alto crescimento da população, ao lado do acelerado processo de industrialização, afetaram diretamente as oportunidades de emprego naquele continente. Toda a Europa de um modo geral estava afundada na miséria no século XIX. A transição entre um modelo de produção feudal para um sistema capitalista afetou diretamente as condições sociais no continente europeu. As terras ficaram concentradas nas mãos de poucos proprietários, havia altas taxas de impostos sobre a propriedade, fazendo o pequeno proprietário se endividar com empréstimos. Havia a concorrência desigual com as grandes propriedades rurais, que fazia o preço dos produtos do pequeno proprietário ficarem muito baixos, empurrando essa mão-de-obra para as indústrias nascentes, que não conseguiam absorver essa massa de trabalhadores, saturando as cidades com desempregados.

A medida que a disputa pelos mercados consumidores se acirrou, a concentração de terras nas mãos de poucos se agravou. Assim, milhões de camponeses, que antes eram pequenos proprietários rurais, desceram à condição de trabalhadores braçais nas grandes propriedades rurais. Mesmo aqueles que continuaram na condição de pequenos proprietários não conseguiam mais tirar seu sustento da terra. Isto porque as terras eram normalmente adquiridas por herança, e o filho mais velho adquiria a propriedade após a morte do pai, enquanto os outros filhos eram excluídos. Mesmo quando as terras eram divididas entre os filhos, o fracionamento acarretava no recebimento de um pedaço de terra muito pequeno, tornando impossível dali extrair o sustento. Ter terra era ser rico, motivo de na mesma época muitos italianos migraram para o Brasil com o sonho der ter terra suficiente para sair da miséria. 

Longe do que é hoje, a Itália nem sempre foi uma país unido, a Itália era formada por pequenas cidades que eram como países dados as grandes diferenças entre elas. Os povos da península itálica foram diversas vezes dominados por outros, e isso gerou uma grande variedade de povos em uma curta distância, seja pela linguagem e pelos dialetos ou pelos interesses pessoais. Somente em 1861 a Itália se unia num só país em busca de progresso contra a miséria em que se encontrava. 

Quem Foi Aradia e Diana?

A figura de Aradia possui poucas fontes e entre elas encontramos Mircea Eliadne, que diz que Aradia, ou Arada, era uma variação do nome da deusa mãe das fadas romenas, Doamna Zînelor, vista por ele como uma transmutação de Diana. Zinelor era regente dos calusari, uma fraternidade secreta romena que através de sua dança pareciam voar, e com isso agiam como curandeiros para a comunidade. Outro estudioso no campo, apesar de um tanto quanto pedante e tendencioso, foi Raven Grimassi, o fundador da Stregheria, uma tradição italiana de bruxaria moderna que visava reconstruir os costumes antigos pagãos de acordo com o folclore local italiano e novas criações. Grimassi acreditava que Aradia derivava das palavras latinas ‘ara’ (fogo) e ‘dea’ (deusa), traduzindo Aradia como uma deusa luminosa ou do fogo. Diversas foram as tentativas de buscar a real Aradia sendo que até o momento a mais bem fundamentada teoria é a da antropóloga Mangliocco, que encontra na Sardenha um possível resquício da verdadeira Aradia. 

Mangliocco acredita que Aradia está ligada a uma deidade chamada ‘sa Rejusta’, da ilha de Sardenha, onde segundo ela as origens do mito de Aradia tomaram forma. Aradia é uma mescla de mitos mais antigos e lendários, entre os quais figura Herodiade, uma lendária Rainha das Bruxas que voava pelas noites de Lua. Herodiade também era o nome da mãe de Salomé e a responsável pela morte de João Batista na bíblia. Segundo Mangliocco ‘sa Rejusta’ faz parte do séquito das deusas que voavam pelo céu noturno com seus súditos, a caminho do sabbat noturno, galopando nas costas de seus familiares, e a elas foram dados diversos nomes: Bensozia, Diana, Holda, Perchta, Madame Oriente, Herodiade e outros. No princípio ‘sa Rejusta’ faz parte de um grupo de seres femininos que tem por função amedrontar as crianças para que durmam logo, tal como a nossa Matinta Perera, o Saci e outros seres místicos do Brasil; mas sua grande diferença, que não a deixa ser um simples conto infantil, se dá por um outro nome dado a ela na região de Budusso (Sardenha). Ela é conhecida como ‘mama Erodia’, uma clara italianização do nome ‘Herodias’. Herodias era filha de Aristóbulo, filho de Herodes, o grande, que morreu depois de insultar o rei, deixando-a órfã. Numa tentativa de vingar a morte de sua família, ela casou-se com Herodes Filipe, filho favorito do rei, dessa união nasceu Salomé. Tempos depois o rei passou a ter como favorito seu meio-tio, Herodes Antipas, e numa atitude que escandalizou a sociedade da época, Herodias divorciou-se de seu primeiro marido para casar com o Herodes Antipas, que por sua vez, teve que separar de sua primeira esposa. 

Entre aqueles que zombavam e oprimiam a relação de Herodiade e Herodes Antipas, estava João Batista, que os acusava de incesto. Foi quando lhe ocorreu de Antipas, muito feliz com a dança de Salomé, lhe prometeu dar o que desejasse. Salomé consultou sua mãe, que pediu para a jovem a cabeça de João Batista. O plano de Herodias funcionou, e a história acaba bem aqui na bíblia, porém outras fontes nos fornecem complementos para esta história. Salomé, ao receber a cabeça de João Batista em uma bandeja, caiu em prantos, arrependida do que fez. Neste momento da boca de João Batista uma espécie de vento surgiu e rodopiante levou Salomé pelos ares, onde ela penaria até o fim dos tempos, desde o banquete Salomé não é mais citada, e ao que parece Herodiade e Herodes foram exilados para o sul da atual França. 

O ato de voar, ou ser levada pelo vento, é entendido na idade média como relacionado às deusas pássaros que caçam na noite, como os mitos de Lilith. No século 13, Jean de Meung, cita em sua obra “O Romance da Rosa”, que um terço da população conhecia Herodias (mesclada e confundida com Dame Abondia), citando também que durante três noites, as almas das pessoas deixavam seus corpos, que ficavam imóveis na cama. Segundo outros relados, Herodias, quando não está cavalgando pelo céu noturno, está no Monte Vênus, onde festeja com seus convidados. Ela também recebeu atributos de Lilith, como a devoradora de bebês. 

Stregheria ou Stregoneria?

Stregheria é uma palavra tida como antiquada e antiga para Bruxaria. No entanto o autor Raven Grimassi criou diversos livros de wicca para criar uma nova tradição de wicca a qual se deu o nome de Stregheria, logo fica evidente que esta Stregheria de Raven Grimassi é um produto novo e incompatível com os ensinamentos deste livro, que ousam ir muito além do que a Rede Wiccana permite. 

Stregoneria é a verdadeira bruxaria italiana, hereditária e mesclada muitas vezes com o catolicismo. A Stregoneria não é uma religião e as crenças de uma família para outra podem variar muito, sendo que em sua base ela é uma mistura de elementos folclóricos, práticas mágicas, oráculos, sabedoria herbal e superstição. Muitos dos praticantes da Stregoneria são católicos ativos, participantes da igreja e dos seus ritos, mas em seus lares, unem o poder da antiga fé em suas orações, usando-as para matar, curar, ajudar, atrapalhar e tudo mais que possa imaginar. 

Este livro não pertence a nenhuma dessas duas tradições de bruxaria, pois este não é um guia, mas uma descrição do que Leland viu ou ouviu. Este é um livro que relata uma bruxaria italiana, identificada por Carlo Baroja, como urbana, focada no amor e no erotismo, esta bruxa é diferente daquelas do norte da Itália, que foram amplamente estudadas por Carlo Ginzburg, em “História Noturna: decifrando o sabá das Bruxas”. A bruxaria aqui descrita é muito similar a aquela das grandes urbes clássicas, num geral são mulheres de idade, alcoviteiras, iniciadas em mistérios ou detentora deles, muitas vezes usando seus dons como ofício, em troca de dinheiro ou favores especiais de seus clientes. 

Cristianismo & Bruxaria

Há uma grande luta nos movimentos modernos de paganismo que buscam desvincular sua imagem do diabolismo cristão, e nesse sentido, a recepção deste livro foi quase nula pelos grupos pagãos e neopagãos. Este evangelho mostra uma suposta bruxa do século XIV que surgiu para salvar os pobres e oprimidos numa época de injustiça, fome, miséria e epidemias, tal como um messias, uma abordagem também cristã. Sem dúvida a figura de Lúcifer, neste livro, é obviamente gnóstica, tal como a ideia de Caim em sua prisão lunar. No entanto estes mostram uma forma popular de contracultura, e na época, auxiliando na queda do Antigo Regime e das práticas feudais italianas. O grande fato é que a igreja contribui para a sobrevivência destes cultos com o culto dos Santos. De fato, são muitos os Santos que realizam verdadeiras ‘feitiçarias’ para encontrar objetos, atar pessoas e fazer chover. A tradição dos santos deriva não da Igreja, mas da insistência de certas camadas em manter seus cultos domésticos, desse modo, o culto aos santos, que só foi aceito pela Igreja no 2° Concílio de Niceia em 787dc, é uma substituição aos cultos pagãos, que em muito contribuiu para formar um catolicismo popular italiano, que era uma mistura de crenças pré-cristãs sobre a qual a Igreja não tinha controle.  

De acordo com Magliocco, na Itália muitos santos recebem dias e dias de orações e atenção, mas se os mesmos não intervirem com a graça solicitada estes seriam castigados até que a graça fosse concedida. Esse costumo fixou no Brasil com a figura de Santo Antônio e o Menino Jesus, uma herança do medievo. Iremos ver o mesmo fenômeno quando lidamos com os ritos deste livro, o que fato aponta que este evangelho possui alguma realidade, e diversos outros povos faziam uso do mesmo costume de ameaçar os santos e também os deuses em troca de favores por sua ‘liberdade’. 

Hoje há muitos bruxos cuja Arte está ali vestida com roupas católicas, mas isso não invalida a Arte. A Arte nunca foi sobre estar contra a Igreja, mas sim sobre ser e sentir felicidade na harmonia e respeito para com o universo e aos seres que o habitam, e penso que se fossemos ainda pagãos estaríamos realizando sacríficos humanos em nome dos deuses. Originalmente a palavra Católico quer dizer ‘universal’ e era, no começo do cristianismo, uma crença ainda malformada, diversos padres praticam ritos pagãos, e ainda praticam disfarçados sob suas vestes cristãs.

Michelet, em ‘A Feiticeira’, explicou que a feitiçaria da Idade Média era uma espécie de revolta desesperada contra os males da sociedade, do feudalismo e da Igreja. Sob o nome da religião a consciência tinha sido abusada, e pecados artificiais, condenando ao inferno, foram criados para todo tipo de coisa.  Assim, este livro apresenta uma bruxaria que é essencialmente anarquista, e aqui encontramos o sentimento de simpatia pelo oprimido, pelo feio, pelo desconhecido, aliado ao desejo de uma sociedade solidária e humana. 


MICHAEL NEFER

Esse texto é um excerto do livro traduzido por mim, Aradia e o Evangelho das Bruxas.
Direitos autorais reservados. Proibida a reprodução total ou parcial não autorizada.

As Ervas de Poder da Bruxa

ervas da bruxaria

Outra forma histórica e cheia de mistérios utilizada por bruxas para voar entre os mundos é o unguento do sabá, também chamado de unguento de voo, ceia negra ou bálsamo das bruxas. Esse composto especial era feito a partir de plantas reconhecidamente alucinógenas, algumas venenosas ao ponto de matar, mas balanceadas como somente um químico de hoje faria, transformando veneno em remédio para a alma.

Existe uma longa relação entre veneno e bruxaria. Veneno é tanto uma palavra quanto uma imagem, um signo que demonstra perfeitamente o equilíbrio entre cura e dano, representando o caminho tortuoso da feitiçaria e a “amoralidade” que o acompanha. Existem venenos que se bem utilizados, curam; do mesmo modo, a dose errada pode certamente causará muita dor e até morte. O que faz o remédio? A dose. Como a bruxaria, o veneno quando diluído perde seu toque e sua eficácia.

O veneno é gerado por plantas que desejam se defender de predadores, do contrário, a planta seria devorada e não se proliferaria. Da mesma forma, devemos ser como plantas venenosas, capazes de se proteger da malevolência que se esconde em nosso mundo. Muito de qualquer extremo pode levar à sua destruição como bruxa ou fazer com que você perca a conexão com sua Arte. Quanto mais veneno em sua vida, mais você corre o risco de se matar.

É dessa forma que a natureza funciona. Não se pergunta a uma planta venenosa por qual motivo ela mata ou cura, ela simplesmente funciona assim. Quando forçamos o caminho a um extremo acabamos por destruir o que ele de fato é, destruímos sua essência. Então se a bruxaria é o veneno, nós somos os envenenadores.

Infelizmente, nos dias de hoje, o desejo de pesquisar e aprender sobre a natureza está cada vez mais escassos entre nossos prospectivos bruxos e bruxas, que se distanciam, por puro preconceito, das plantas venenosas e alucinógenas, uma vez que não as veem como um modo válido de alcançar outros estados de consciência. Uma atitude incorreta e desrespeitosa, uma vez que bruxas em diferentes países, culturas, credos e épocas têm consumido de diferentes formas todos os tipos de misturas como auxiliares para entrar em estados de transe. Seja álcool, cigarros, drogas ou plantas, é útil pelo menos ter uma visão mais ampla e aberta do que somente o conhecimento popular sobre medicamentos de farmácia, drogas que são liberadas pela sociedade em que vivemos. Por exemplo, um incenso não é uma droga, mas em alguns países do Oriente Médio tê-los em casa pode ser motivo de cadeia por ser um item de bruxaria, já em outros países, a fumaça de um incenso pode render uma multa se utilizado em apartamento, uma vez que as regras antitabagistas se aplicam sobre o uso de incenso nessas outras localidades.

Quando falamos de uso de ervas de poder para o transe, não estamos falando de se divertir somente, sua mente precisa de um foco ritual. Uma vez que trabalhamos com espíritos, devemos evitar o uso de drogas para recreação, uma vez que podemos acabar entrelaçados por seus espíritos, como o do tabaco, cujo espírito é invejoso e costuma gostar de ser adorado por seus utilizadores, mas que é uma das mais poderosas oferendas aos deuses. Quando aprendemos o uso dessas substâncias de poder, somos guiados por alguém que já tenha feito a jornada de modo a nos direcionar, orientando nossa percepção enquanto no outro lado. Então, como você pode observar, vale a pena ser cauteloso, independente da natureza da planta. É muito fácil tropeçar ou ser enganado quando se trata de ervas de poder.

Eis uma lista de compostos históricos utilizados por bruxas:

  • O Unguento do Sabá

Trata-se de um composto de ervas narcóticas que causam o chamado “voo da alma”. É o mais famoso e misterioso composto criado pelas bruxas. Com ele a bruxa é capaz de transcender o plano físico. Feito com ervas que causavam a sensação de levitação, como a datura, a belladonna, a mandrágora e o heléboro negro. Para criar uma Pomada Voadora tradicional, deve-se não só compreender totalmente o espírito das plantas utilizadas e as dosagens ou contra-indicações “seguras”, e se for feita para ser compartilhada com outras pessoas, assumir a responsabilidade e a obrigação de seu uso. Essas plantas são poderosas e exigem respeito.

  • A Carne dos Deuses

Este é um nome dado aos cogumelos utilizados pela bruxa para transcender a experiência física. Literalmente, ao comê-los, nos tornamos um com o mundo e expandimos a percepção humana. O mais famoso é o Agaricus, o famoso cogumelo vermelho com manchas brancas, geralmente desenhado junto de fadas e duendes, o que é um sinal de que a aparência não significa, necessariamente, que algo é bom ou mau, afinal esse pequeno cogumelo e outros, são espíritos poderosos, perigosos e se tratá-los sem o devido respeito, eles devorarão você em todos os sentidos. Como deuses encarnados, os poderes dos cogumelos são vastos, como tem provado a ciência, que hoje utiliza a psilocibina para combater diversos malefícios, até mesmo a depressão.

  • O Vinho das Almas

Esse composto é mais complexo, uma vez que seus nomes podem indicar coisas distintas. No Brasil, a Jurema é uma das plantas de interesse da bruxa, uma vez que ela abre a porta do espírito para ele subir a árvore dos mundos e viajar entre os muitos reinos distribuídos pelo nosso território. Para a pajelança a Ayahuasca é quem abre essa porta, possibilitando experiências extra sensoriais que permitem acesso a diversas realidades e ensinamentos. Apesar de nenhum desses dois ser um vinho de uva, assim são chamados pois a ideia de vinho, por si só, pressupõe algo que pode turvar a mente, como acontece com as pessoas embriagadas. Curiosamente, Dioniso, o deus grego do vinho, porta uma taça da qual quem bebe é tomado de êxtase e loucura. “Eu sou a videira”, diz ele, nos oferecendo visões sobre a morte e a vida, sobre momentos de desespero e de alegria. O ‘vinum sabbati’, nesse sentido, é cognato do unguento de voo da bruxa.

  • Lista de Ervas de Poder da Bruxa

A relação das bruxas com plantas em geral é extensa e profunda, indo desde as poções ou filtros, os incensos, os chás e bebidas, até uma profunda relação com o mundo espiritual vegetal, cultivado cuidadosamente através de gerações de famílias que transmitiram essa sabedoria verde até os dias de hoje. Como segredos sussurrados ao pé do ouvido, essas pessoas ouviram o espírito do aliado verde falar sobre suas maravilhas e permitiram que eles moldassem nossos espíritos quando consumiram de seus brotos, passando então a compartilhar esses saberes com aqueles que vinham adiante no caminho.

A lista a seguir é uma lista de poderosos aliados que revelam saberes profundos que não podem ser descritos através da linguagem humana. Por serem poderosos, demandam muita experiência antes de podermos trabalhar com eles, mas são importantes para a bruxa conhecê-los e entender o por que as bruxas do passado utilizaram deles em suas práticas e rituais. Eles são espíritos complexos e demandam sacrifícios para que os verdadeiros mistérios que eles guardam sejam revelados.

  • A Carne dos Deuses: é o nome dado aos cogumelos psilocybe cubensis, conhecidos por sua capacidade de expandir a mente. Foi explorada por Maria Sabina, a famosa curandeira que os chamava de ‘crianças douradas’.
  • A Trombeta do Diabo: muito utilizada em unguentos do passado, a datura stramonium é perigosa e tóxica, um erro na dose pode levar à morte. Conectada à lua, aos seres noturnos e à feitiçaria, foi explorada nos escritos de feitiçaria mexicana de Carlos Castaneda, demonstrando seus poderes como guia espiritual e protetora verde, uma poderosa aliada das bruxas.
  • A Mandrágora: a planta mais famosa da bruxaria européia, era utilizada para diversos fins na feitiçaria. Seus poderes analgésicos, intoxicantes e afrodisíacos, eram tidos em grande estima por diversas sociedades do passado. É considerada tanto um veneno quanto um remédio, por sua capacidade de causar excitação em pequenas doses, e alucinação em altas quantidades.
  • O Heléboro Negro: outro famoso ingrediente dos unguentos, era usado para balancear o unguento, uma vez que parte das ervas causava furor e com isso aceleração do coração, o heléboro diminuia os batimentos, equilibrando seus efeitos. É famoso por banir espíritos e para parar com fofocas.
  • A Belladonna: esta pequena e bonita planta é a causa de morte de diversas pessoas. A belladonna pode ser sedativa em baixas doses, aliviando dores, mas em altas doses você experimenta o mais aterrorizante delírio. Ela não é uma planta alucinógena, pelo contrário, ela causa delírios profundos e tremendos, que eram de utilidade para a bruxa que sabia que existe um poder profundo para além da beleza comum e aceita pelas pessoas em geral.
  • O Álcool: é um produto da alquimia, no começo era chamado de Fogo Vivo, mas seu nome tem origem na palavra árabe Al Ghul, que pode ser traduzida como ‘demônio’, e que é ligada a estrela de mesmo nome, simbolizada por Lilith e Medusa. A função do álcool é separar a matéria do espírito, quando bebemos podemos sutilmente sentir que os limites da mente convencional começam a se dissolver, e de fato, muitas pessoas quando bêbadas acabam deixando seus corpos vazios e dando espaço para espíritos falarem.
  • O Tabaco: é considerada a oferenda favorita dos espíritos e deuses, pois cada folha do tabaco detém o poder de comandar espíritos, espantar a maldade alheia, melhorar o tempo e até mesmo de amarrar dois corações. É narcótico, estimulante, tranquilizante e pode, em altas doses, causar visões.
  • A Cannabis: chamada de erva dos filósofos, a cannabis é uma planta iluminadora da mente. Quando tocados levemente por seu espírito, a Cannabis facilita nossas dores e sofrimentos; em doses mais altas, ela nos deixa eufóricos e absortos, capazes de receber uma infinitude de informações em formas de cores, sons, sensações ou uma mistura maluca de todas essas coisas, como sentir o gosto de uma cor e automaticamente saber algo. Ela é ótima para começar rituais trazendo a conexão a outro nível, mas pode ser desmotivadora quando utilizada para recreação. É considerado ilegal o cultivo de cannabis em território brasileiro, então ela figura aqui como curiosidade.
  • A Valeriana: apesar de ser uma planta medicinal, a Valeriana possui em sua constituição e espírito a capacidade, em altas doses, de causar torpor e sono. Seu efeito geral é ansiolítico, agindo como calmante natural. Seu poder hipnótico é similar em função ao heléboro negro.
  • A Erva-de-São-João: é uma planta multi função nas artes mágicas, sendo similar a valeriana, uma vez que é medicinal, mas também é uma planta iluminadora da mente, deixando você inclusive sensível a iluminação natural ou artificial excessiva. Sua função principal é espantar o espírito da tristeza das mentes e corações humanos.
  • Trabalhando com o Espírito das Plantas

O trabalho a seguir pode ser feito com qualquer tipo de planta, incluindo as plantas de poder. Antes de fazê-lo, é necessário que você tenha já uma longa pesquisa sobre a planta, de modo a entender tudo e mais um pouco sobre ela. Esse é um passo muito importante e não deve ser pulado. O motivo disso é para que você possa saber bem o que está fazendo e por que você fará isso, pois ao fazê-lo, você irá assumir a responsabilidade de trabalhar com outro ser, e seja humano ou não, você deverá manter uma rotina para que isso funcione. Outro motivo de se pesquisar muito antes de começar esse tipo de trabalho é para que a planta possa se manifestar caso não deseje trabalhar com você, isso pode ocorrer através de sonhos ou mesmo sinais em sua vida cotidiana, caberá a você interpretá-los.

O primeiro passo, desse modo, é reconhecer a planta pelo que ela é, um poderoso enteógeno, capaz de matar ou curar. Apesar de sua forma pequena e frágil, os enteógenos não são fofinhos nem bonitinhos, eles são poderosos. Comece reconhecendo e respeitando este aspecto da planta e ela irá lhe ensinar exatamente o que fazer para “voar” com a ajuda dela. Qual é o poder dessa planta? Ela é ctonica? Iluminadora? É importante ter em mente essas perguntas uma vez que quem irá controlar as primeiras viagens é o espírito da planta. Por exemplo, os cogumelos são telúricos, são ligados por imensas teias abaixo dos nossos pés e são ótimos para trabalhar as coisas interiores, que jazem ocultas ou que estão distantes. Já a cannabis, possui um espírito ígneo, ligado ao fogo, causando euforia, o que a torna ideal para manifestar a sabedoria sussurrada pelos espíritos.

Não é suficiente, mas desejo ressaltar mais uma vez, o uso de ervas de poder pela bruxa não é o mesmo que se divertir com drogas. Utilizar ervas de poder com propósitos mundanos pode ser prejudicial para sua relação com a planta e com seu corpo.

Depois de pesquisar, então você deverá cultivar a planta e conversar com ela todos os dias, e esse é o momento em que grande parte dos relacionamentos dos humanos costuma falhar. Cultivar e nutrir qualquer coisa exige querer, saber, ousar e calar, por isso é importante que você já tenha em mente tudo o que for necessário para começar sua jornada com a planta, sabendo desde como cultivar quanto a como nutrir para mantê-la sempre viva.

É importante que você perca sua importância ao falar com as plantas. Muitas pessoas costumam falar sussurrando com as plantas, com medo de serem taxadas de loucas, mas o fato é que ao fazer isso você está se bloqueando de reconhecer o enteógeno como um poder, colocando muita importância na aparência que você tem para os outros. Lembre-se que uma bruxa não deve ter medo de ser quem ela é uma vez que ela é o maior poder vivo na terra, todo o resto é mera aparência.

Uma vez que tenha cultivado sua planta, com a primeira poda, você poderá começar a congregar com o espírito da planta de forma mais direta. Você poderá utilizar os galhos ou folhas da primeira poda para realizar um ritual chamando o espírito da planta, depois coloque-os abaixo da sua cama e vá dormir, anote tudo. Lembre-se, não consuma a planta até que tenha certeza que ela deseja trabalhar com você.

Assim que tiver certeza que os caminhos estão abertos para trabalhar com a planta, então realize um trabalho de transe mais profundo, consumindo uma minúscula parte da planta. Ao realizar este trabalho seu foco será em aprender como se comunicar com a planta e descobrir qual o sigilo para conjurá-la. Essa etapa pode levar anos, mas é gratificante quando recebemos a cada sessão informações que são úteis para nosso trabalho.

Com todos esses passos você terá iniciado um relacionamento com a planta e a essa altura poderá ter já manifestado saberes derivados desses encontros com o espírito da planta. Agora você é responsável por manter um bom uso desse saber, devendo repassá-lo somente a aqueles que partilhem da mesma admiração que você tem pelo espírito da planta, e evitar que ela caia em mãos profanas, que irão usá-la somente para se divertir.

MICHAEL NEFER
(Trecho do livro ‘Liber Umbrae’)

Direitos autorais reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial não autorizada.

Amarrações na Bruxaria: em busca da origem

A figura da bruxa européia, que vai ao sabá e voa em vassouras, nos foi introduzida por Portugal como atesta o folclorista e historiador Luís Câmara Cascudo, começamos então por Portugal. A cultura de Portugal foi composta por diversas outras culturas anteriores, sendo as principais o catolicismo, o islamismo e as práticas fetichistas da África. Portugal era aberta ao mar, recebia diversos povos e possui-a uma religiosidade híbrida. Adicionando-se a predominância do caráter rural os portugueses eram muito mais afeitos ao misticismo e a religiosidade pagã do que ao catolicismo.

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O Grimório na Bruxaria

O Grimório é para toda bruxa um espelho de si mesma. O Grimório é basicamente seu diário mágico, mas em um nível mais profundo, ele é o mais poderoso instrumento de um Feiticeiro. Nele deve ser anotado sonhos, rituais, práticas e eventos da vida em geral do praticante. Alguns praticantes preferem manter um grimório só para conter os ritos e práticas, e outro somente para sonhos e a vida em geral (alguns fazem até um livro somente para eventos da vida em geral). No momento certo, seu grimório-diário lhe dará uma visão clara de sua evolução e progresso no caminho. Através do contato com espíritos e deuses do caminho, um bruxo pode canalizar um grimório sussurrado pelos guias do caminho e que muitas vezes vêm acompanhados de conjurações para que o conhecimento ali contido seja revelado ao praticante.

Conhecido desde tempos imemoriais, o grimório é derivado da palavra “gramática”. Toda gramática é em essência a descrição de um conjunto de símbolos e de como combiná-los para criar frases bem formadas. Um grimório é, apropriadamente, uma descrição de um conjunto de símbolos mágicos e de como combiná-los corretamente. Muitos livros podem ser chamados de grimórios, todos começaram como anotações de um processo para depois se tornarem célebres através das eras.

Um observador eficiente deve focar em anotar em um diário todos os aspectos do que acontece em sua jornada, do momento em que pisa na soleira da porta, domínio do desconhecido e de muitos deuses do limiar, até o momento do retorno para sua casa. Devemos anotar tudo quanto for possível. Como o tempo estava, como você se sentia ao sair de casa, encontros no caminho, animais que passaram por você, coisas curiosas que aconteceram, como você se sentia quando chegou ao local e como se sentia ao sair, coisas que chamaram sua atenção, oferendas que foram realizadas aos espíritos do local, sonhos que surgiram antes da visita ou depois, sonhos, e etc.

Não existe um modelo definitivo que possa usado em todas as ocasiões, de fato, existem modos diversos de se anotar seus sonhos, suas tiragens de cartas, seus rituais, seus feitiços, suas receitas secretas, mas qualquer que seja o modo que escolha, é importante que ao menos algumas informações sejam anotadas.

Data & Hora: importantes para mostrar ciclos que se repetem. Com tempo, poderá ver que existem situações que são ciclos e poderá abordá-los de formas diferentes.

Fase da Lua: essa informação será importante para que você perceba no futuro as relações entre as fases da lua e seu corpo físico e emocional.

Antes da Prática: é importante que você anote coisas como sensações, expectativas, situações que passou, emoções prévias e tudo mais que aconteceu depois de você acordar, até mesmo o que você comeu, uma vez que alimentos podem influenciar como nos sentimos. 

Durante a Prática: coloque aqui algumas linhas sobre seus sentimentos, emoções, visões, sensações, impressões e tudo o mais que acontecer durante sua prática, descrevendo cada passo ou mudança repentina que aconteceu.

Depois da Prática: escreva como se sentiu depois, que sensações você sente, quais pensamentos passam pela sua cabeça e tudo mais que seja necessário, pode ser que você queira também deixar algumas linhas extras em branco para preencher com coisas que possam lhe acontecer ao longo do dia.

Como vê tudo importa para o desenvolvimento da bruxa. Todos esses elementos serão úteis para seu caminhar mais a frente quando quiser determinar se progrediu em uma prática ou mesmo saber onde no processo mágico você errou de modo a encontrar e corrigir sua prática tornando ela cada vez mais afinada com seu propósito.

Bruxas no Brasil: Origens da Bruxaria no Brasil

Origens da Bruxaria no Brasil

A figura da bruxa européia, que vai ao sabá e voa em vassouras, nos foi introduzida por Portugal como atesta o folclorista e historiador Luís Câmara Cascudo, começamos então por Portugal. A cultura de Portugal foi composta por diversas outras culturas anteriores, sendo as principais o catolicismo, o islamismo e as práticas fetichistas da África. Portugal era aberta ao mar, recebia diversos povos e possui-a uma religiosidade híbrida. Adicionando-se a predominância do caráter rural os portugueses eram muito mais afeitos ao misticismo e a religiosidade pagã do que ao catolicismo.

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Magia, Bruxaria & Wicca: diferenciação e respeito

Magia, Bruxaria & Wicca: diferenciação e respeito.

O que é magia?

A magia é uma folha de papel branca limpa, pura, cheia de possibilidades. Enquanto vazia, ela possui todo potencial, para todas as coisas. Nesse sentido a magia não tem e não é religião, não é uma crença, ela simplesmente é uma fonte potencial.

O que é Bruxaria?

Agora imagine que começamos a escrever ou desenhar na folha branca. Uma vez que começamos a folha tem seu potencial limitado a técnica empregada. Se pinto de forma similar a um mangá, então me restrinjo-me a manter o mesmo estilo. A folha vai ganhando cada mais traços, delimitando o que ela é. Em comparação ao que acabei dizer, se a folha branca é a magia, a Bruxaria é uma técnica, um estilo de se pintar, e cada linha ou traço será um dogma de cada vertente da bruxaria. Esse também é o motivo da Bruxaria ser uma Arte e um ofício, não é uma religião, jamais poderia ser uma vez que não possuímos nenhum livro que seja como a Bíblia é para os cristãos. Bruxaria é metodologia, cada qual deve desenvolver suas técnicas e seguir seus estilos próprios. Desse modo existem bruxas de todos os tipos, bruxas inseridas em diferentes culturas, crenças, religiões e em diferentes camadas da sociedade ao longo da história humana.

O que é a Wicca?

A Wicca surgiu nos anos 60 através das percepções de Gerald Garner, por sua estrutura ela é considerada uma religião, uma vez que os adeptos fazem uso de elementos em comum dentro de suas diferentes tradições. Ao mesmo tempo que a Wicca é uma religião ela também é considerada um tipo de bruxaria, mas novamente, não é o único. Ela costuma ser uma porta de entrada comum para muitas pessoas que buscam caminhos alternativos a religião patriarcal. Seus praticantes tem preceitos e dogmas que são comuns entre si, como a Rede Wicca, a Lei Tripla, o uso das figuras de um Deus e uma Deusa e rituais iniciáticos.

Que tipos de bruxas existem?

Todos aqueles que são Wiccanos são considerados bruxas, mas nem toda bruxa é Wiccan. Como já mencionei, bruxas estão inseridas em diferentes contextos. Existem bruxas dentro de diferentes culturas (brasileiras, europeias, americanas, chinesas, africanas, espanholas, italianas, japonesas, etc.), mas também existem bruxas dentro dessas culturas (como no Brasil temos bruxas catimbozeiras, benzedeiras, curadoras, kimbandeiras, bruxas do candomblé, da umbanda, espíritas, etc.).

Diferente das religiões, a bruxaria não é engessada, não possui rituais que são comuns a todos os praticantes. Por sua natureza fluida ela sempre se adapta ao local, pessoas, culturas, ambientes.

Porque devemos respeitar a escolhas dos outros?

Por que não queremos repetir o erro da Inquisição. Hoje em dia as pessoas que se dizem bruxas vivem policiando tudo o que as pessoas fazem, agindo de forma até pior do que os inquisidores. Se você acha que sua crença é perfeita, ótimo, mas está errado, você provavelmente veio de uma família cristã, pois esse tipo de pensamento restritivo é cristão. Bruxas não se ofendem por bobagem. Bruxas não se ofendem com o pensamento alheio, ao contrário, elas aprendem a absorver as diferentes formas de se enxergar a realidade, elas comungam com diferentes crenças para evoluírem. Qualquer coisa diferente disso só revela que você tem uma crença engessada que não permite que você evolua.

Fadas, Feitiçaria e Feitiços de Cura: como a medicina popular e o sobrenatural se entrelaçaram

O estudo da medicina popular tem uma longa história que reflete sobre o desenvolvimento mais amplo da saúde na sociedade europeia. Nos últimos 500 anos e mais, a medicina foi definida em grande parte por quem a praticou, e não por sua base ou eficácia teórica. Pode-se argumentar que muito do que se sabe sobre a história da medicina “não oficial” deriva de processos sob leis destinadas a restringir o fornecimento e de tentativas do estabelecimento médico europeu de afirmar o monopólio da saúde.

Lembre-se de que sabemos retrospectivamente que os tratamentos fornecidos pela medicina profissional eram, até o século passado, muitas vezes pouco melhores do que os oferecidos por muitos curandeiros não licenciados. No século XIX, a ascensão do movimento folclórico temperou a condenação educada com uma curiosidade mais destacada nas “relíquias” percebidas da “ignorância” médica do passado.

Até a década de 1980, os historiadores estavam preocupados em traçar o “progresso” da biomedicina e da saúde institucional, e raramente pensavam muito na natureza e na continuidade de outras tradições de cura.

Mas agora, assim que alguns dos últimos vínculos com essa história alternativa da experiência médica estão desaparecendo, várias disciplinas relativamente novas, como antropologia médica, etnobotânica, fitoterapia e etnofarmacologia, deram um ímpeto para examinar novamente a natureza e o valor da Antigas tradições médicas da Europa.

Forças sobrenaturais

Durante grande parte da história registrada, a medicina popular compartilhou teorias e práticas com a medicina “oficial” do clero medieval e médicos licenciados.
Em termos das etiologias da doença popular, no entanto, talvez houvesse uma maior ênfase na influência de forças sobrenaturais. Isso certamente se tornou uma das diferenças mais claras entre as duas tradições no século XVIII, quando em grande parte da Europa a lógica intelectual para a existência de bruxaria foi minada.

Como é evidente em registros de julgamentos do final do século XV a meados do século XVIII, e de fontes folclóricas e casos judiciais na era moderna, o diagnóstico e a cura da bruxaria eram um elemento importante do entendimento e da experiência popular da medicina.

As bruxas foram responsabilizadas por uma grande variedade de doenças e acidentes, desde levar as pessoas a quebrar as pernas até infestá-las com pulgas. Condições como câncer, tuberculose, malária e epilepsia, que se desenvolviam lentamente ou eram recorrentes e não apresentavam sintomas externos óbvios, eram particularmente suscetíveis de atrair suspeitas de bruxaria.

Em toda a Europa, doenças e incapacidades também foram atribuídas a vários tipos de seres sobrenaturais. Na Irlanda, por exemplo, as fadas continuaram sendo um elemento significativo da etiologia popular até o século XIX.

Aqui, assim como na Escócia, no País de Gales e em outros lugares, bebês com doenças doentias exibindo características como pele enrugada, crescimento atrofiado e cabeças grandes, que podem ser identificadas com vários distúrbios congênitos, foram considerados por algumas crianças fadas – substitutos para bebês humanos sequestrado pelas fadas. Crenças semelhantes foram realizadas na Noruega, onde as deformidades causadas pelo raquitismo infantil eram comumente atribuídas aos huldrefolk (pessoas ocultas).

Numerosas outras etiologias populares foram baseadas em observações e deduções incorretas, mas ainda assim razoáveis, sobre associações naturais. Isso geralmente ainda requer um remédio mágico. Por exemplo, na Sicília na década de 1980, ainda existia uma tradição de cura baseada na noção de que um susto ou choque poderia agitar os vermes intestinais fora de sua posição “normal” habitual no intestino das crianças, levando à sua propagação e consequente doença. Os curandeiros de ervas ou ciarmavermi trataram a condição usando uma mistura de remédios e feitiços naturais.

Em Lucania, no sul da Itália, ainda é acreditado por alguns que a mastite pode ser causada por um bebê chupando um cabelo da cabeça da mãe e empurrando-o acidentalmente para o seio através do mamilo. Uma razão para a continuação da crença é que a medicina popular não apenas fornece o que parece uma explicação causal clara para a doença, mas também um remédio dedicado, que envolve colocar uma escova de cabelo no sutiã da mulher enquanto um curandeiro recita o seguinte encanto:

“Bom dia [ou boa noite], Saint Miserano.”
Havia uma mulher que se lavou.
“O que você tem, minha mãe, que você está sempre chorando?”
“Os cabelos acima dos meus seios.”
Se você não diz San Sini ‘San Sena
Três da boca e três do nariz.

Doutrina de assinaturas

Floresta

Para as pessoas que tinham pouca ou nenhuma consciência das estruturas químicas das plantas e de seus compostos, a chave para curar doenças de inspiração natural e sobrenatural estava em várias regras que ajudavam a entender as propriedades ocultas ou ocultas das plantas e animais ao seu redor.

A doutrina das assinaturas – a noção de que a aparência física de uma planta é indicativa de suas propriedades curativas – foi um dos legados duradouros da medicina grega antiga.

Através dos escritos dos médicos romanos Dioscorides (c.40 – c.90) e Galen (c.129 – c.216), tornou-se parte integrante da medicina “oficial” no oeste medieval, sendo amplamente respeitada no início do período moderno, apesar das crescentes críticas, e continua hoje em algumas tradições médicas alternativas e populares.

A doutrina das assinaturas é um aspecto de uma noção antiga mais geral sobre as leis da simpatia no mundo natural e entre os reinos natural e sobrenatural. Existem associações simbólicas e físicas ocultas entre pessoas e outros seres vivos, espíritos e substâncias inanimadas, e isso significa que as ações que afetam uma também influenciam a outra. O exemplo clássico é o cabelo do cão, pelo qual se pensava que a raiva era curada colocando o cabelo do cão agressor na ferida da mordida.

Existem muitos outros exemplos na medicina folclórica européia, como a cura da hérnia congênita dividindo o tronco de uma árvore, geralmente carvalho ou freixo, passando o bebê afetado por ele e prendendo a árvore novamente. À medida que a árvore curava, o músculo rompia na virilha da criança.

Embora o processo tenha sido praticamente o mesmo em toda a Europa, os folcloristas dos séculos XIX e XX registraram uma gama diversificada de rituais associados. Em Portugal, o rito teve que ser realizado à meia-noite na véspera de São João por três homens chamados João, enquanto três mulheres chamadas Maria giraram o fio e recitaram um feitiço. Em Somerset, Inglaterra, uma virgem teve que passar a criança pela árvore.

A magia simpática era comumente empregada para curar a bruxaria – então, pegar o coração de uma vaca morta enfeitiçada, colá-la com alfinetes e espinhos e depois assá-la, faria com que a bruxa responsável tivesse dores cardíacas excruciantes e obrigasse-a a desistir de mais atos maliciosos. Tomar a urina de um paciente enfeitiçado, colocá-lo em um vaso junto com alguns objetos afiados e ferver, afetaria da mesma forma a bruxa.

Até o desenvolvimento e a aceitação da teoria sobre os germes no século XIX, a medicina folclórica e a medicina ortodoxa novamente compartilhavam concepções semelhantes ou as mesmas de contágio e como lidar com isso. Uma diferença significativa entre os dois, no entanto, dizia respeito à noção médica popular de que algumas doenças não podiam ser destruídas e, portanto, as curas só podiam ser alcançadas através da transferência ritual da doença para outra pessoa ou outra coisa. Vários exemplos podem ser encontrados nos arquivos sobre curandeiros processados ​​sob a lei escocesa contra bruxaria.

Em termos históricos, certos conceitos médicos, como a doutrina das assinaturas, tornaram-se definíveis como “folclóricos” ou “populares”, uma vez descartados pela medicina ortodoxa. O exemplo mais óbvio disso diz respeito à teoria humoral. Os médicos gregos antigos acreditavam que a saúde era governada pelo equilíbrio de quatro substâncias – ou humores – a saber, bile amarela, bile negra, sangue e fleuma. As doenças foram causadas pelo desequilíbrio, o que levou ao excesso de calor / frio, umidade / secura no corpo.

As curas exigiam a ingestão de alimentos, líquidos ou ervas com propriedades quentes / frias, úmidas / secas, que neutralizavam o desequilíbrio identificado, ou métodos como sangramento, que reduziam excessos humorais. Na cultura popular européia, as pessoas não conceituavam necessariamente a saúde em termos humorais, mas suas práticas e etiologias eram baseadas tanto na teoria quanto na medicina legitimada. No entanto, uma vez que a comunidade médica européia a rejeitou no final do século XVIII, sua influência contínua tornou-se um marcador de atraso científico.

No entanto, não devemos rotular a medicina popular como meramente a garupa de idéias médicas ultrapassadas. Em suas inúmeras manifestações, possuía uma identidade própria e distinta nos contextos local, regional e nacional.

Citação: Clinical Pharmacist , vol. 2, p. URI: 11010086

A última ‘bruxa’ a ser queimada viva era inocente: cidade pede perdão 360 anos após sua morte

POR STUART DOWELL

Terapeutas que ajudam idosos com demência foram às ruas de Gdańsk ontem para reencenar o momento em que a última bruxa da cidade foi queimada viva na fogueira – para tentar convencer os conselheiros locais a limpar seu nome 360 ​​anos após sua morte.

A suposta feiticeira Anna Kruger, de 88 anos, foi queimada com força no que hoje é Targ Węgielny em Gdańsk, diante de uma multidão latente, depois de ter sido considerada culpada de bruxaria por vereadores locais.

O caso foi instaurado contra ela depois que os vizinhos não conseguiram entender por que a senhora de cabelos grisalhos não havia morrido de varíola, apesar do vírus ter abatido muitos membros mais jovens e saudáveis ​​da comunidade local.

O fato de ela morar perto de uma casa para os doentes com a doença também levantou suspeitas de que a magia era o motivo de sua imunidade.

Domínio Público

Outros vizinhos também a consideravam responsável pelo fato de suas vacas caírem mortas como moscas, acreditando que a velha havia lançado um feitiço nos animais.

Em 9 de dezembro de 1659, a velha senhora, aterrorizada e frágil, foi conduzida por um carrasco que a amarrou a uma estaca cercada por lenha. Apesar de ter sido torturada cruelmente, ela manteve sua inocência por um longo tempo. Membros do clero tentaram salvar sua alma, incentivando-a a confessar, mas ela permaneceu inflexível e jogou de volta citações bíblicas para eles.

Isso apenas alimentou sua ira, pois acreditavam que uma mulher pobre e sem instrução só poderia ter adquirido um conhecimento tão amplo das escrituras do diabo.

Eventualmente, a velha senhora fraca se dobrou quando lhe foram mostrados os instrumentos de tortura que seus acusadores estavam prestes a aplicar.

O terrível evento de 360 ​​anos atrás aconteceu ontem, no que é hoje Targ Węgielny, em Gdańsk. Museu Histórico de Gdańsk

Pinças para puxar seios, ferros de marcar e um dispositivo conhecido como cabra, no qual as vítimas estavam sentadas, enquanto os pesos eram progressivamente presos às pernas, que eram auxiliares da lei populares na época.

Ela finalmente admitiu a feitiçaria, dizendo que tinha aprendido com o marido e que havia começado no dia de São Nicolau. O espírito maligno que disse possuir recebeu o nome de Claus.

Em 9 de dezembro de 1659, a velhinha aterrorizada e frágil foi levada para a praça por um carrasco, que a amarrou a uma estaca cercada por lenha.

Antes de acender a pira, em um ato de misericórdia, ele colocou um pequeno saco de pólvora no manto dela, logo abaixo do coração.

Beata Pawlik

Quando as chamas começaram a subir na fogueira, acenderam o pó, poupando Kruger de mais agonia.

Embora os eventos tenham ocorrido vários séculos atrás, para alguns na cidade a injustiça ainda queima. Beata Pawlik, da Fundação Spellbound [fundacja Zaczarowani], disse à TFN: “Não acreditamos que as pessoas que foram queimadas na fogueira estejam realmente envolvidas em magia. Essas pessoas eram simplesmente diferentes das outras.

“Se vemos hoje alguém que está agindo de forma estranha, que tem uma doença mental, que é um sem-teto, um cigano, não os queimamos na fogueira, mas evitamos, talvez os coloque em uma instituição. Nós os excluímos de nossas vidas e nos isolamos deles. ”

Beata Pawlik

“O destino de Anna Kruger é importante porque ela é um símbolo daqueles que são diferentes. Muito sugere que Kruger sofria de demência. Ela tinha 88 anos, murmurava baixinho e parecia estranha ”, acrescentou.

Ontem, perto do local onde ocorreu o espetáculo macabro no século XVII, a fundação encenou a execução pública. Desta vez, porém, havia duas Anna Krugers. Uma delas foi a histórica Anna que falou sobre seu medo e incompreensão do que estava prestes a acontecer com ela.

Domínio público

A outra Anna simbolizava uma pessoa contemporânea que também expressava seu medo e falta de compreensão do mundo ao seu redor.

Enquanto isso, três juízes condenaram a sentença, privando sua liberdade.

Ao longo dos anos, a fundação tentou convencer os vereadores de Gdańsk a reabilitar Kruger como uma maneira de destacar a exclusão social. Até agora, porém, os membros do conselho não demonstraram muito interesse, citando falta de tempo, e também que o atual conselho não é o sucessor legal do conselho que condenou a velha há quase 400 anos.

No entanto, segundo Pawlik, Gdańsk deve se orgulhar de seu histórico. “Gdańsk abandonou a queima de mulheres acusadas de bruxaria 140 anos antes do que em outras partes da Europa. Deveríamos nos orgulhar disso ”, disse ela.

Anna Kruger não foi a última mulher a ser acusada de manter contato com o diabo na área. Onze anos depois, Wolbrecht Hellinsche, vivendo em Wisłoujście, foi considerada culpada, mas em vez de ser queimada, foi exilada da cidade. Essa abordagem mais branda veio depois que o Papa pediu maior restrição ao lidar com casos de bruxaria.

Essa matéria apareceu primeiro no Empório das Bruxas. Leia o original aqui.

UMA NOITE DE SABEDORIA ARCANA

Às vezes as noites na floresta são estranhas. Me recordo de que desde pequena fui ensinada a não temer nada, afinal, morar numa floresta não é algo simples como pregam as pessoas que vivem nas cidades, não durante a noite.

Minha avó, uma bruxa centenária, aprendeu com suas antecessoras que não podemos ser vítimas de uma sociedade doente e crescente. Elas sabiam uma terrível verdade, pela qual muitas pagaram com suas vidas. Essa verdade, ou melhor, essa cura que elas promoviam, envolvia libertar as pessoas de seus medos.

Me recordo que certa vez minha avó foi chamada às pressas, por uma pessoa que vivia no vilarejo próximo, para atender duas crianças. Ao chegar lá as crianças choravam sem parar e apontavam para um canto escuro que levava a floresta. Elas pareciam aterrorizadas e pouco ouviam o que as pessoas diziam e não se acalmavam. Minha avó pegou os dois no colo dela, pediu que a deixassem com as crianças e eu, ela disse para as crianças que agora elas tinham uma grande guerreira ao lado delas e que poderiam com muita perseverança vencerem esses e outros monstros que as assustavam.

Ela me disse que aquilo era parte de um chamado para mim, pois segundo ela, era hora de me tornar destemida.

As crianças por um momento pararam de chorar copiosamente e se olharam, ao notar o medo um no outro, voltaram a se desesperar. Minha avó pediu a elas que somente olhassem para ela e contou a uma história boba sobre um macaco que lutava contra um exército de formigas, mas enquanto contava a história ela se movia, indo em direção ao local onde as crianças antes apontavam. Foi então que ela parou a história e disse a eles sobre onde eles estavam. Eles viram logo que não havia nada mais ali e um até riu ao ver o quão bobo foi seu desespero. Minha avó então pegou um raminho de arruda que carregava atrás da orelha e os abençoou pedindo os bons deuses que protegessem as crianças.
Apesar de parecer incrédula de houvesse algo na floresta minha avó voltou ao local onde as crianças haviam apontado e quase que sussurrando me disse algo sobre essa ser uma excelente oportunidade para mim. Eu estava com frio, com medo e com sono, eu não estava no meu melhor momento para caminhadas e ensinamentos na floresta tarde da madrugada. Ela me disse que aquilo era parte de um chamado para mim, pois segundo ela, era hora de me tornar destemida.

Como uma moradora de uma floresta eu posso lhe dizer o que cada som é, eu reconheço o som que cada animal faz, mas também ouço bem os passos dos espíritos lamuriosos sobre a terra. Naquela noite eu havia sentido um frio maior que o comum, me arrepiando toda. Logo depois senti como se fosse observada, o que me deixou num estado de ansiedade em poucos segundos. Minha avó me disse que ela me ajudaria e me socorreria se eu gritasse de medo, mas que aquilo seria minha oportunidade de ser livre de qualquer monstro, e eu confiava nela, então ouvi bem suas instruções de ir até onde o meu medo dizia ser maior o perigo que espreitava e mostrar ao meu medo o quanto eu estava brava. Segui até uma clareira onde me sentia rodeada de sombras e formas sinistras e gritei para as sombras que elas eram idiotas, ignorantes e feias. Minha avó se aproximou sorrindo e disse que isso me bastava por hora para enfrentar qualquer coisa no meu caminho.

O caminho do “conheça a si mesmo” é um caminho longo, mas conforme caminhamos nossa jornada na Terra, conhecemos aspectos profundos de nós mesmos e descobrimos que no medo há poder. 

Os tempos mudaram, eu mudei, mas agora entendo que parte fundamental de ser uma bruxa é conquistar medos. O caminho do “conheça a si mesmo” é um caminho longo, mas conforme caminhamos nossa jornada na Terra, conhecemos aspectos profundos de nós mesmos e descobrimos que no medo há poder. 
Entenda peregrino, que nada do que falo aqui é sobre ser negar o medo, mas sobre transformar o medo em poder. Uma bruxa jamais terá repulsa pelo sentimento de medo, ela o converte em curiosidade e com isso o horror não tem força para se instalar. Minha avó me ensinou que não há necessidade de ser forte, sempre compartilhei com ela meus medos, minhas ansiedades, contei a ela sobre cada um e ela me ajudou a encarar todos com firmeza em minha palavra.
Naquela noite minha avó me disse que aquelas crianças que visitamos mais cedo eram bruxas, que elas tinham o dom mágico de ver os espectros do outro mundo, mas que se dissesse isso aos pais das crianças eles as abandonariam, e no mais, se fosse o destino delas, elas se tornariam um dia conscientes de sua natureza. Até lá, seriam atormentadas pelos medos adquiridos das pessoas com quem vivem. Um dia, elas aprenderão que elas são o que elas temiam, e quando isso acontecer, seus medos serão superados e poderão lembrar de sua ferocidade.

Madam Leonora

UM FEITIÇO PARA HORAS DE EMERGÊNCIA

Emergência é em essência algo que está emergindo, subindo a superfície. A palavra emergência como sinônimo de necessidade é recente, tem cerca de 200 anos desde o registro mais antigo de seu uso. Seja qual for a sua necessidade nesse momento, esse trabalho vem lhe trazer uma ferramenta para balancear seu corpo, mente e espírito. 
Uma das maiores origens desse sofrimento é a confusão que fazemos entre necessidades não atendidas e desejos não realizados. Necessidades referem-se a aspectos básicos da condição humana, alimentar-se, vestir-se, ter um lugar para morar. Quando essas necessidades não são atendidas, o ser humano vive numa condição sub-humana e deve lutar, com todas as suas forças, para que essas necessidades sejam atendidas. 
Desejos são revelações de nossa vontade, não são necessidades. Assim, temos o desejo de um carro novo, de um computador melhor, de um celular que nos permita fotografar ou conectar-se às redes sociais. Temos também o desejo de sermos promovidos, de ter uma sala de trabalho maior, de viajar para o exterior ou para uma praia. Posso controlar ou mudar meus desejos. Posso preterir meus desejos, mas não posso adiar a minha fome, o meu frio, a minha doença.
Um feitiço de emergência trabalha três aspectos: cura, transformação e ação. Quando falamos de cura devemos ficar atento, a cura não é o mesmo que um milagre, a cura é um processo. Podemos aprender a nos curar quando paramos os diálogos negativos que temos sobre nós, sobre o mundo, sobre as outras pessoas. Quando abandonamos a voz negativa que nos faz perder tempo pensando em problemas passamos a focar em soluções. Como já diz o ditado: não se chora pelo leite derramado. Quando aceitamos que não podemos mudar o passado é que se abre a porta para focarmos no hoje, e aos poucos, esse processo leva a cura interior de problemas e situações que antes nem mesmo eram contemplados por nossa consciência.

Já no aspecto transformativo, falamos sobre as ações que podemos tomar para começar uma mudança ativa e duradoura. Um ritual cai bem aqui, porque todo ritual é um ato de transformação. Não basta, obviamente, somente um ritual. O ritual é uma fagulha, se não alimentarmos essa fagulha ela jamais pegará fogo o suficiente para nos dar o que buscamos. Desse modo, o aspecto ação fala sobre movimento, sobre mover-se em direção ao seu objetivo. Depois dos atos rituais, devemos realizar atos, mesmo que mínimos, que nos levem em direção ao nosso objetivo. De fato, gastamos menos energia mantendo algo em movimento do que começando sempre tudo de novo. Esse feitiço em suas mãos se trata somente do aspecto transformativo, cabendo a você realizar diariamente e constantemente as outras etapas a seu modo e tempo.