Neste bosque ainda trabalhamos nossa Arte como nos velhos tempos e entre os muitos símbolos de nossa fé está o Stang, que é uma das ferramentas da bruxa por excelência. Nele os vários mistérios do folclore da Velha Arte e a visão sagrada da Naturaleza se ocultam. Basicamente, o Stang é uma vara de madeira bifurcada, terminando dois pontos, que também pode ser uma varinha menor e mais fácil transporte. Ele tanto pode servir como um altar em si, representando a Árvore do Mundo ou como uma ferramenta poderosa de voo enquanto viajamos no Outro Lado.*

Nos tempos antigos, homens e mulheres que viviam em contato com a floresta observaram os prados e a natureza, e de suas observações e relações com a terra que habitavam, lhes surgiu uma sapiência sobre a relação entre os poderes naturais inatos da terra e os dos seres que ali habitavam. Um exemplo deste conhecimento é encontrado hoje em dia no que se diz sobre os animais de poder, vistos como portadores de conhecimento arcano*, mas especialmente os animais de chifre demonstraram ser portadores dos segredos que adivinham da abóbada celeste diretamente para a Mãe Terra. O Stang, tal como um par de chifres, representava em si Vida e Morte, Ignorância e Conhecimento, Luz e Escuridão, Mestre e Dama, e quando uma vela no meio do forcado, então a luz da Sabedoria é erigida, o fogo astuto* é revelado. 

Em imagens do passado uma ferramenta semelhante em formato era utilizada para se mover as brasas na lareira ardente do ferreiro ou nas frias noites do inverno. Na tecelagem uma ferramenta similar era utilizada para enrolar e desenrolar a linha que fabricava todo tipo de roupas e vestes, sugerindo que o Stang originalmente foi o Distaff, uma ferramenta feminina. Além disto, na área rural, ferramentas semelhantes eram usadas na pilhagem de feno ou na jardinagem para se abrir a terra fértil e fecundá-la com sementes. Todas estas ações são importantes para muitas bruxas, principalmente aqueles que se importam com o legado de sua terra e povo, assim, aqueles que participavam da Arte das Bruxas sempre preservaram seu território e legado de modo a se comunicar com as forças e espíritos que ali habitavam. Por tanto não seria nada incomum uma bruxa montar um Stang e usá-lo como instrumento que garantisse a fertilidade de suas terras ou como um instrumento de voo noturno pois a vassoura utilizada pelos praticantes da Arte Moderna foi na verdade o Stang das bruxas antigas.

Em nossa Arte o Stang é a presença viva de Nosso Senhor Chifrudo em sua forma bestial, animalesca e zoomórfica. Ele é o Senhor da Floresta e dos seres que ali habitam, através dos quais pode se manifestar. Quando duas flechas são cruzadas no Stang, nos lembramos de quando ainda caçávamos para sobreviver. Como Senhor do mundo Selvagem, ele rege desde o crescer das árvores até o movimento dos animais, o correr dos riachos e rios pelas das pedras, a queda da folha ou da árvore – tudo é guiado se não unicamente por sua vontade, que é indomável, ilimitada e livre.

Paralelamente, como Árvore do Mundo, o Stang é usado como uma ‘escada’ ou ‘portal’ para caminharmos pelo mundo das sombras e assim realizarmos nossos feitios. Ele é análogo a nossa espinha dorsal, ao passo que nossos olhos são as bifurcações de nosso próprio Stang interior. Onde quer que finquemos nosso Stang, ali é o centro mundo, é onde tudo começa ou acaba, é onde erigimos nossa encruzilhada entre os mundos.*

Quatro caminhos partem, quatro caminhos chegam, de Leste a Oeste, o Iluminador e o Obscurecedor tem seu reino junto com suas consortes, ao passo que a Norte e Sul, Ar e Terra se opõem de igual forma, todos se reúnem ao redor do centro ao longo das estradas de poder. No meio dela está o Chifrudo, o Bruxo Pai de nossa Congregação. O Stang, com seus galhos em formato de chifres, é um símbolo do próprio primeiro bruxo e agricultor a portar a semente dos anjos, e de todos os mistérios masculinos.

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Mme. Leonora
*Outro Lado: também chamado de Elfame, a casa dos mortos, dos espíritos…
*Arcano: aquilo que é oculto, secreto, aquilo que é mistério…
*Encruzilhadas: leia o artigo “A Encruzilhada das Bruxas”.

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