A BRUXA SOLITÁRIA

 

Nos primórdios os primeiros amigos dos homens foram os espíritos que desde o início existiam. Nossas almas, tão antigas, através das eras ressurge, e anseia, se debate, se rebela, pois, porta memórias muito grandes e antigas para tão pequeno corpo. Deste modo buscamos um relacionamento com a terra em que vivemos, e dessa relação um conhecimento que é tanto solitário quanto comunitário surge.



Para nós a Bruxaria é a ferramenta dada pelos espíritos a aqueles que nada possuem, é o recurso dos oprimidos e dos marginalizados perante as sociedades que desprezam e maltratam nossa terra. Deste modo, somos aqueles que escolheram abandonar a sociedade doente para proteger nosso legado.

Com o tempo, aprendemos com os espíritos a atravessar para o Outro Mundo, o Outro Lado, o Reino dos Espíritos, através de uma magia mais antiga do que a religião e a palavra escrita, tão antiga quanto as florestas e rios, tão antiga quanto o próprio céu. Aprendemos com o pássaro, tanto quanto o livro; aprendemos com o vento e as colinas, tanto quanto com coisas escritas; aprendemos a ler nas nuvens e na chuva, o que de fato precisamos, e pouco a pouco encontramos os encantamentos, todos surgindo do chão da floresta, do deserto ou do gelo. Nós aprendemos que somos a tempestade, o granizo, o gelo, o vento, e tudo o mais.


Fazemos tanto o quanto podemos com nossas próprias ferramentas. Nós esculpimos, cortamos, costuramos, por vezes grosseiramente, mas são nossos objetos, pois fazemos com as nossas mãos as coisas que precisamos, e não compramos nada que possa ser trocado, encontrado ou roubado. Nós fazemos o que é necessário.


Plantamos nossas próprias ervas e vivemos com as plantas que colhemos do nosso trabalho. Pois há sacralidade em fazer crescer e diminuir, e é através desse poder, que tanto a parteira quanto o jardineiro usam, que realizamos nossos Atos de Poder.


Nosso conhecimento é sussurrado e está oculto no forno no qual assamos o pão, no sótão cheio de pó ou sob o tapete de nossa porta. O conhecimento da superstição perene, da lenda e da crença popular regional, são assim destilados através do tempo e da necessidade.


Não há nenhuma verdade. Há somente o céu, os espíritos da terra, e as velhas formas. Nosso caminho é lento, exige muita escuta e silêncio, para aprender a ver e ouvir o que passa despercebido pela sociedade.

Mme. Leonora

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